ESTUDOS DE EVOLUÇÃO DAS FEIÇÕES DE FUNDO
Em ambientes costeiros e estuarinos, os processos hidrodinâmicos naturais, regidos especialmente pelo regime de ondas e correntes de marés, podem alterar gradativamente a linha de costa e as feições de fundo em corpos d’água. Trata-se de um processo lento e contínuo, que pode ser intensificado pela mudança natural das forçantes ambientais (frentes frias, sazonalidade etc.) e, consequentemente dos padrões de dinâmica sedimentar, resultando em uma nova conformação do ambiente. Este processo natural contínuo é comumente conhecido como equilíbrio dinâmico.
Nesse complexo ambiente, as atividades humanas, especialmente a dragagem, podem alterar de maneira mais abrupta e significativa as feições de fundo, tanto na área dragada e imediações (aumento da profundidade pela retirada de sedimentos), quanto na área de disposição aquática deste material (diminuição da profundidade pelo acúmulo de sedimentos). Essas alterações afetam diretamente os processos hidrodinâmicos locais, podendo resultar em mudanças nos processos erosivos e deposicionais.
Nesse sentido, o acompanhamento periódico dessas feições de fundo permite a identificação de áreas com predomínio de processos de erosão ou deposição, com aplicação direta nos processos de controle operacional da navegação, por meio de estimativas das taxas de assoreamento e previsão de dragagens de manutenção. Além disso, esses estudos podem ser aplicados em processos de monitoramento das áreas de disposição aquática licenciadas, através das estimativas da taxa de dispersão de sedimentos e da capacidade de recebimento de sedimentos dragados.
Para o desenvolvimento desses estudos, uma das ferramentas comumente aplicadas considera a comparação de levantamentos batimétricos em determinado intervalo de tempo, que permite a estimativa das diferenças entre as superfícies, identificando regiões em que predominaram processos de erosão (variações negativas) ou de deposição (variações positivas) ao longo do período analisado. Vale destacar algumas limitações dessa metodologia, especialmente associadas a eventuais desvios entre as superfícies comparadas, que podem estar associados tanto a incertezas do processo de aquisição dos dados em campo (variações no posicionamento horizontal e vertical, na propagação do som etc.) quanto à análise dos resultados (diferenças de interpretação, métodos de interpolação de dados e afins.).
Em áreas licenciadas para a disposição aquática de sedimentos dragados, espera-se que os processos hidrodinâmicos naturais sejam competentes para a dispersão dos sedimentos ali dispostos, resultando em uma recomposição rápida das feições de fundo mapeadas anteriormente aos descartes. Em complementação, a Autoridade Portuária responsável pela gestão do uso dessas áreas podem estabelecer diretrizes operacionais e ambientais específicas para o gerenciamento da disposição (limitação do volume ou número de ciclos por período, revezamento dos locais de disposição etc.), de modo a minimizar o acúmulo de sedimentos dentro da área de descarte.
Nesses locais, os estudos de evolução temporal das feições de fundo são uma importante ferramenta para auxiliar no acompanhamento dos processos naturais de retrabalhamento físico e dispersão dos sedimentos dentro da área de descarte, sendo possível visualizar ao longo do tempo a erosão de pequenos morros eventualmente gerados pelos descartes pontuais, e consequentemente, a suavização das feições de fundo.
De maneira complementar, a integração dos resultados em todos os pontos permite inferir o percentual do volume de sedimentos descartado que permaneceu dentro da área licenciada após um período de descartes. Além disso, é possível estimar a capacidade de recebimento de volumes dragados em determinada área, em função da batimetria atual e das diretrizes operacionais estabelecidas pela Autoridade Portuária.